sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Mais rápido que a luz?


RIO - A divulgação na semana passada de um experimento que teria detectado neutrinos - um tipo de partícula subatômica quase sem massa e de carga elétrica nula - viajando mais rápido que a luz está movimentando físicos do mundo inteiro e enfrenta cada vez mais ceticismo quanto a seus resultados. E não é por menos: a ideia de que a velocidade da luz no vácuo é constante qualquer que seja o referencial do observador e representa o limite de velocidade do Universo é um dos principais postulados da Teoria da Relatividade Especial de Albert Einstein, que por sua vez é um dos pilares da física moderna.
Na quinta-feira passada, cientistas do laboratório subterrâneo de Gran Sasso, na Itália, anunciaram ter flagrado neutrinos lançados pelas experiências no Grande Colisor de Hádrons (LHC), acelerador de partículas do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), a cerca de 730 quilômetros de distância, rompendo o limite da velocidade da luz. Os dados foram obtidos de um detector de partículas de 1,8 mil tonelada batizado Opera. Nos últimos três anos, os pesquisadores do Opera
cronometraram a viagem de aproximadamente 16 mil neutrinos entre o Cern e o detector italiano e verificaram que, em média, eles cobriram a distância 60 nanosegundos mais rápido do que se estivessem viajando à velocidade da luz (um nanosegundo equivale a um bilionésimo de segundo), com uma margem de erro de apenas dez nanosegundos.
- Honestamente, não creio que os resultados o Opera estejam corretos. De fato, não encontrei um físico que acredite nisso - afirma Barry Blumenfeld, físico experimental da Universidade Johns Hopkins.
Blumenfeld lembra que o experimento Minos, realizado nos EUA com neutrinos lançados pelo Tevatron, acelerador de partículas do Fermilab, encontrou valores semelhantes aos do Opera há quatro anos, com a diferença de que a margem de erro era dez vezes maior que a informada pelos pesquisadores do laboratório italiano. Segundo ele, tanto o Minos quanto o T2K, experimento similar baseado no Japão, deverão melhorar seus métodos de medição para tentar replicar os resultados do Opera de forma a confirmá-los ou refutá-los de vez.
- O problema é que os resultados do Opera foram baseados em três anos de dados acumulados, então obter uma outra resposta pode levar algum tempo - pondera.
Mas e se esses neutrinos estiverem viajando mesmo mais rápido do que a luz? Como isso vai afetar as teorias da física moderna, desde a física de partículas até a cosmologia? Blumenfeld admite que será preciso reescrever muitas equações, mas isso não significa que Einstein estivesse de todo enganado.
- A Relatividade Especial é um dos pilares de tudo que sabemos e tudo que fizemos nos últimos cem anos é consistente com ela - diz. - Teríamos que reescrever muita coisa, mas isso não quer dizer que tudo que fizemos está errado, só que está incompleto.
Na mesma linha segue Vicente Pleitez, professor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp):
- Sem dúvida precisaríamos de uma teoria tão boa quanto a de Einstein e que pudesse explicar ainda o por que deste efeito dos neutrinos e suas consequências.
Para Pleitez, é possível que estejamos observando um fenômeno novo e interpretando-o como se os neutrinos estivessem viajando mais rápido que a luz.
- Pode ser que seja um efeito quântico e não da relatividade, deixando uma possível explicação nos cânones da física quântica -
Já Blumenfeld aponta como uma das possibilidades para os neutrinos parecerem estar viajando mais rápido do que a luz é que eles estejam passando por dimensões extras, previstas pelos vários ramos das chamadas Teorias da Cordas, que tentam reconciliar a mecânica quântica com a relatividade para explicar as forças fundamentais do Universo e defendidas por cientistas famosos como o britânico Stephen Hawking.
- A violação da Relatividade Especial abre portas para muitas possibilidades - conclui Blumenfeld. - Os físicos têm falado sobre dimensões extras há muito tempo e podemos imaginar que há algo especial nos neutrinos que os permite pegar um pequeno atalho através de uma dimensão extra. Mas, antes de especular mais sobre isso, gostaria de ver uma forte confirmação de um resultado tão pouco provável.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/09/28/fisicos-ceticos-quanto-experiencia-que-detectou-neutrinos-mais-rapidos-que-luz-desafiou-einstein-925461362.asp#ixzz1a5sYialL 
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