Ouvi muito `não` até conseguir matricular meu filho, conta mãe de menino autista
Mariana Monzani - UOL Educação - 30/09/2012 - São Paulo, SP
A escola deveria ser direito de todos, seja de crianças e adolescentes
em situação de inclusão ou não, segundo a LDB (Lei das Diretrizes e
Bases da Educação Nacional). Contudo, Patrícia Rodrigues de Campos
Rocha, 33, mãe do Guilherme, 7, diagnosticado com autismo, conta que
ouviu muito “não”até conseguir matricular o filho em uma escola de
ensino regular.
Patrícia
conta que escutou `diversas desculpas”: “não estamos preparados para
recebê-lo”’, `aqui tem muitas escadas e pode ser perigoso`, `ele usa
cadeira de rodas?`, `só podemos aceitá-lo se você pagar uma profissional
para cuidar dele por fora”.
Segundo
Marie Claire Sekkel, do Instituto de Psicologia da USP, autora de um
pesquisa sobre inclusão, após as crianças passarem por essa experiência,
elas não reproduzem, apenas, o discurso politicamente correto, elas se
diferenciam na formação e no modo como agem no mundo. `Não achar que é
só porque a criança tem deficiência que ela vai dar mais trabalho em
sala de aula.”, fala.
“O
que eu reconheço como fundamental, hoje, é a disponibilidade das
pessoas em poder pensar diferente, em poder fazer diferente, em se ver
diante dos pequenos desafios da vida e encontrar novos caminhos usando
os recursos que elas têm”, diz Prislaine Krodi, psicóloga da Creche
Pré-Escola Oeste da USP (Universidade de São Paulo), um estabelecimento
modelo de inclusão.
Thomaz Fernandes - G1 Globo.com -30/09/2012 - Rio de Janeiro, RJ
A
professora Érica Aparecida de Fátima dos Santos, de 30 anos, dá aulas
de história como temporária em escolas estaduais de Piracicaba (SP) há
três anos. Além das dificuldades inerentes a lecionar para adolescentes e
atuar na rede pública, a piracicabana ainda precisa se desdobrar
diariamente para enfrentar a deficiência visual sem prejudicar o
aprendizado dos alunos.
Quando
Érica nasceu, problemas no parto deixaram sequelas na sua visão. À
medida que foi crescendo, a professora perdeu gradualmente a visão até
ficar completamente cega aos 16 anos. Durante a readaptação, descobriu a
vocação para ensinar. `Depois que passei pelo processo de adaptação,
passei a ensinar braile e descobri que tinha vocação para lecionar. Como
gostava de história, fiz o vestibular e passei`, relatou.
Na
Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), que é adaptada para
deficientes, Érica foi prevenida sobre as dificuldades que enfrentaria
após se formar. `Uma professora me falava das minhas limitações e de
como poderia superá-las. Ela me orientou sobre o meu direito de
solicitar um assistente e me preveniu que não seria fácil`.
Adaptações
Há um ano, Érica conseguiu, por meio de processo judicial, um professor
assistente encarregado de escrever a lição na lousa e auxiliar na
questão disciplinar. Até então a professora se encarregava sozinha de
todo o trabalho, que vai além do conhecimento da matéria. `No meu
primeiro ano, o Estado rejeitou meu pedido por um auxiliar. Então
precisei requisitá-lo na justiça`, afirmou.
Sem
a ajuda de um assistente com visão da sala de aula nos dois primeiros
anos, a professora elaborou adaptações ao próprio trabalho. `Como eu não
conseguiria passar a matéria na lousa, fazia todo o conteúdo no meu
computador (sonorizado) e passava para a turma ou deixava uma cópia com o
representante de classe`, explicou.
Para
ministrar provas, sempre havia um funcionário da escola para garantir
que os alunos não fraudassem o exame. Para corrigi-las, ela recorria à
mãe e a irmã, que liam as respostas para que ela apontasse erros e
acertos. O principal problema foi conter casos de indisciplina. ``Pelo
fato de eu não enxergar, os alunos acham que tem uma liberdade que não
encontram com outros professores. É duro quando 30 alunos estão falando
ao mesmo tempo e saber que se eu enxergasse bastava uma repreensão para
eles se calarem`, disse.
Parceria e rendimento
Apesar de ter conseguido `sobreviver` dois anos sem o auxiliar, Érica
admite que o seu desempenho e o andamento das aulas é inferior sem esse
auxílio. `Mesmo conversando com os alunos e sendo respaldada pela
diretoria, não adianta achar que não precisava do auxiliar, pois
precisava`, contou.
O
professor de matemática Murilo Feliciano, de 20 anos, está há três
meses atuando como os `olhos` de Érica, seja lendo provas, escrevendo na
lousa ou apontando o aluno responsável pela conversa em sala de aula.
`Para mim está sendo uma experiência boa dentro da sala de aula, mesmo
fora da minha área`, disse.
Superação
Érica sente-se na obrigação de representar um exemplo para deficientes
visuais. O Estado não respondeu ao questionamento sobre o número de
deficientes visuais em salas de aula da rede estadual, mas ela afirma
que não é uma prática. Por ser uma das poucas, a professora crê que um
erro ou uma desistência podem prejudicar a inserção de deficientes na
área. `O deficiente visual nem desistir pode`, completou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dê sua opinião!