terça-feira, 2 de outubro de 2012

Inclusão x Exclusão

Ouvi muito `não` até conseguir matricular meu filho, conta mãe de menino autista
Mariana Monzani - UOL Educação - 30/09/2012 - São Paulo, SP

A escola deveria ser direito de todos, seja de crianças e adolescentes em situação de inclusão ou não, segundo a LDB (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Contudo, Patrícia Rodrigues de Campos Rocha, 33, mãe do Guilherme, 7, diagnosticado com autismo, conta que ouviu muito “não”até conseguir matricular o filho em uma escola de ensino regular.
Patrícia conta que escutou `diversas desculpas”: “não estamos preparados para recebê-lo”’, `aqui tem muitas escadas e pode ser perigoso`, `ele usa cadeira de rodas?`, `só podemos aceitá-lo se você pagar uma profissional para cuidar dele por fora”.
Segundo Marie Claire Sekkel, do Instituto de Psicologia da USP, autora de um pesquisa sobre inclusão, após as crianças passarem por essa experiência, elas não reproduzem, apenas, o discurso politicamente correto, elas se diferenciam na formação e no modo como agem no mundo. `Não achar que é só porque a criança tem deficiência que ela vai dar mais trabalho em sala de aula.”, fala.
“O que eu reconheço como fundamental, hoje, é a disponibilidade das pessoas em poder pensar diferente, em poder fazer diferente, em se ver diante dos pequenos desafios da vida e encontrar novos caminhos usando os recursos que elas têm”, diz Prislaine Krodi, psicóloga da Creche Pré-Escola Oeste da USP (Universidade de São Paulo), um estabelecimento modelo de inclusão.
 
Deficiente visual, professora que dá aula em Piracicaba relata superação
Thomaz Fernandes - G1 Globo.com -30/09/2012 - Rio de Janeiro, RJ

A professora Érica Aparecida de Fátima dos Santos, de 30 anos, dá aulas de história como temporária em escolas estaduais de Piracicaba (SP) há três anos. Além das dificuldades inerentes a lecionar para adolescentes e atuar na rede pública, a piracicabana ainda precisa se desdobrar diariamente para enfrentar a deficiência visual sem prejudicar o aprendizado dos alunos.
Quando Érica nasceu, problemas no parto deixaram sequelas na sua visão. À medida que foi crescendo, a professora perdeu gradualmente a visão até ficar completamente cega aos 16 anos. Durante a readaptação, descobriu a vocação para ensinar. `Depois que passei pelo processo de adaptação, passei a ensinar braile e descobri que tinha vocação para lecionar. Como gostava de história, fiz o vestibular e passei`, relatou.
Na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), que é adaptada para deficientes, Érica foi prevenida sobre as dificuldades que enfrentaria após se formar. `Uma professora me falava das minhas limitações e de como poderia superá-las. Ela me orientou sobre o meu direito de solicitar um assistente e me preveniu que não seria fácil`.
Adaptações
Há um ano, Érica conseguiu, por meio de processo judicial, um professor assistente encarregado de escrever a lição na lousa e auxiliar na questão disciplinar. Até então a professora se encarregava sozinha de todo o trabalho, que vai além do conhecimento da matéria. `No meu primeiro ano, o Estado rejeitou meu pedido por um auxiliar. Então precisei requisitá-lo na justiça`, afirmou.
Sem a ajuda de um assistente com visão da sala de aula nos dois primeiros anos, a professora elaborou adaptações ao próprio trabalho. `Como eu não conseguiria passar a matéria na lousa, fazia todo o conteúdo no meu computador (sonorizado) e passava para a turma ou deixava uma cópia com o representante de classe`, explicou.
Para ministrar provas, sempre havia um funcionário da escola para garantir que os alunos não fraudassem o exame. Para corrigi-las, ela recorria à mãe e a irmã, que liam as respostas para que ela apontasse erros e acertos. O principal problema foi conter casos de indisciplina. ``Pelo fato de eu não enxergar, os alunos acham que tem uma liberdade que não encontram com outros professores. É duro quando 30 alunos estão falando ao mesmo tempo e saber que se eu enxergasse bastava uma repreensão para eles se calarem`, disse.
Parceria e rendimento
Apesar de ter conseguido `sobreviver` dois anos sem o auxiliar, Érica admite que o seu desempenho e o andamento das aulas é inferior sem esse auxílio. `Mesmo conversando com os alunos e sendo respaldada pela diretoria, não adianta achar que não precisava do auxiliar, pois precisava`, contou.
O professor de matemática Murilo Feliciano, de 20 anos, está há três meses atuando como os `olhos` de Érica, seja lendo provas, escrevendo na lousa ou apontando o aluno responsável pela conversa em sala de aula. `Para mim está sendo uma experiência boa dentro da sala de aula, mesmo fora da minha área`, disse.
Superação
Érica sente-se na obrigação de representar um exemplo para deficientes visuais. O Estado não respondeu ao questionamento sobre o número de deficientes visuais em salas de aula da rede estadual, mas ela afirma que não é uma prática. Por ser uma das poucas, a professora crê que um erro ou uma desistência podem prejudicar a inserção de deficientes na área. `O deficiente visual nem desistir pode`, completou.

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