Introdução e Contextualização
A História da Ciência tem importância fundamental nas aulas de História, principalmente por privilegiar o processo de construção do conhecimento. As análises dos historiadores que assim agem atentam ao que há de social em seus estudos, ou seja, buscam saber como determinada sociedade se dá conta ou não da existência de algo que altera sua forma de ser. É o caso da Segunda Guerra Mundial, pela qual Hiroshima e Nagasaki tiveram seus destinos mudados para sempre, o que se repercutiu não somente no Japão, mas no mundo.
Os livros didáticos nem sempre oferecem suporte para uma História da Ciência. Nas raras vezes em que isso ocorre, exaltam biografias e ocorrências isoladas. Ao se referirem à bomba atômica, por exemplo, dão a impressão de que é um fato consumado, ocorreu entre povos distantes, de que a ciência é neutra, portanto, os estudantes não precisam nem sequer perguntar, por exemplo, sobre as possibilidades de o Brasil sofrer um ataque atômico.
Ao priorizar a História da Ciência nas aulas de História, o professor muda de postura. Em vez de conduzir a aula por relatos lineares e continuados somente, transmitirá aos alunos que o trabalho científico é instigante por poder garantir discussões e debates sobre as rupturas existentes nas bases dos conceitos científicos. Em outras palavras, ministrará aulas de História na busca do entendimento de como aquele conceito que virou saber foi construído.
Retrospectiva da História da Ciência – e das Tecnologias
A História das Ciências, que caminha juntamente com a História das Tecnologias, tem aproximadamente dois séculos de vida. Conforme Figueiroa (2010), além de nem sempre ter se unido à disciplina de História, a natureza de ambas é discutida há algumas décadas. Como resultado, há diversas versões da História da Ciência, e também da Historia, o que leva a alguns embates na prática, requerendo do professor informação de quais são as linhas gerais referentes à História da Ciência e da Tecnologia.
Antes da Bomba Atômica
Sabe-se que a História da Ciência teve origem da própria Ciência moderna, que tinha como forma histórica os entendimentos e explicações dos fenômenos da natureza, construída entre os séculos XVI e XVIII e que se firmou no século XIX.
São inumeráveis os autores que indicam a ocorrência do início da Ciência moderna, aproximadamente no século XV, período de grandes descobertas e redescobertas da cultura clássica e de outras diversas. Uma das primeiras versões da história da Ciência apresenta-se como uma justificativa da formação da Ciência, caracterizando-se como debate. Ela vai terminar entre os séculos XVIII e XIX, pois, conforme Alfonso-Goldfarb (2004), nessa época começa a se formar um único perfil da Ciência, mas a palavra Ciência só é criada no século XIX, significando conhecimento em geral. Como dito antes, seus especialistas são os cientistas.
A partir do século XX, a Ciência passa a ter grande expressão no mundo. No entanto vive um longo período de tempo sendo a-histórica, uma vez que se mostra ávida de buscar precursores geniais, cuja visão de mundo esteja à frente do seu tempo, uma história linear que se distancia de sua própria história. Além disso, diz Figueiroa (2010), Ciência e Tecnologia são colocadas acima dos demais saberes, a partir do Iluminismo.
No entanto, esse enfoque muda a partir da II Guerra Mundial, devido à produção da bomba atômica e invenção de armas com tecnologias sempre mais apuradas e mortíferas. E Alfonso-Goldfarb (2004) cita o trabalho sobre a História da Ciência, A estrutura das revoluções científicas (1962), no qual Kuhn estimula as outras disciplinas a tomarem a Ciência como tema, o que leva ao redescobrimento da própria Ciência, inclusive no Brasil. Populariza termos como paradigma e mudança de paradigma
Processos e Saberes na Construção da Bomba Atômica
“Meu Deus o que fizemos?” (Robert Lewis, copiloto do enoja Gay, 1945).
Na história da humanidade sempre existiram disputas sobre uma nova tecnologia. Não foi diferente com a produção da bomba atômica. Albert Einstein dissera a Roosevelt, após receber o Nobel de Física de 1921, que deveria ficar atento e acelerar as pesquisas, antes que os outros o fizessem.
Mediante o texto Ciência mortal: explosão de laboratório, de Lama (2004), conta-se como o grupo que produziu a bomba atômica permanece isolado no deserto, controlado pelo governo americano na realização do Projeto Manhattan.
No processo de construção da bomba os cientistas passaram a ter dúvidas de fundo moral. Conforme Lama (2004), o poder político e econômico não valorizou seus questionamentos, e o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, determinou que a bomba atômica fosse lançada no Japão. As informações são desencontradas, mas, segundo a Folha de São Paulo On-line (2005),
[...] Só em Hiroshima morreram, em 1945, 140 mil pessoas devido à bomba. Até 2005, foram somadas outras 5.375, reconhecidas como vítimas da destruição nuclear na cidade. Desta forma, o número oficial de mortos pelo ataque atômico já chega a 242.437.
Em Nagasaki, o número de vítimas fatais é de cerca de 135 mil.
Diversos acordos foram realizados entre os países. Por último, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT) permite testes com armas nucleares, somente em simulações. Desde 1996 o tratado espera ser ratificado para entrar em vigor. De acordo com o jornal Folha de São Paulo (2013), a Coreia do Norte assinou, mas não se comprometeu a cumprir o documento. No dia 12 de fevereiro de 2013 o mundo se surpreendeu com a prática de um teste nuclear na Coreia do Norte, a terceira e mais agressiva experiência atômica realizada pelo país, um desafio para a comunidade internacional.
Poderíamos questionar: O que há de comum desse ato com a explosão de uma bomba atômica utilizada como teste durante a Segunda Guerra Mundial, no laboratório nacional de Los Alamos, no Novo México, mostrado no filme O início do Fim, de Rolland Joffé (1989)? De novo, o processo de produção da bomba atômica envolve disputas políticas, econômicas, de ataques e defesas de espaços históricos e geográficos.
A partir da Segunda Guerra Mundial houve melhora da Ciência e seu ensino, interdisciplinarmente, dando origem a Congressos Internacionais de Ciência, com temas, inclusive, envolvendo países antes considerados “sem ciência” (América Latina, partes da Ásia e África). No entanto, é necessário que a educação científica dos indivíduos seja melhorada para tornar possível a prática da cidadania.
Levando em consideração a importância do contexto de produção da Ciência, sabe-se que muitas vezes as verdades científicas resultam de negociações, acordos, relações de poder. É preciso atentar para o fato de que há uma imagem pública da ciência que se confunde com a ideologia da ciência, diz Figueiroa (2010).
Por outro lado, o enfoque da História da Ciência continua se modificando, ou seja, passa a depender de contextos históricos mais amplos. Em conclusão, é necessário reforçar as discussões interdisciplinares de temas de História e Ciência com reflexos na comunidade e no país como forma do público se apropriar da Ciência e abrir caminhos para a participação democrática na sociedade.
A História da Ciência tem importância fundamental nas aulas de História, principalmente por privilegiar o processo de construção do conhecimento. As análises dos historiadores que assim agem atentam ao que há de social em seus estudos, ou seja, buscam saber como determinada sociedade se dá conta ou não da existência de algo que altera sua forma de ser. É o caso da Segunda Guerra Mundial, pela qual Hiroshima e Nagasaki tiveram seus destinos mudados para sempre, o que se repercutiu não somente no Japão, mas no mundo.
Os livros didáticos nem sempre oferecem suporte para uma História da Ciência. Nas raras vezes em que isso ocorre, exaltam biografias e ocorrências isoladas. Ao se referirem à bomba atômica, por exemplo, dão a impressão de que é um fato consumado, ocorreu entre povos distantes, de que a ciência é neutra, portanto, os estudantes não precisam nem sequer perguntar, por exemplo, sobre as possibilidades de o Brasil sofrer um ataque atômico.
Ao priorizar a História da Ciência nas aulas de História, o professor muda de postura. Em vez de conduzir a aula por relatos lineares e continuados somente, transmitirá aos alunos que o trabalho científico é instigante por poder garantir discussões e debates sobre as rupturas existentes nas bases dos conceitos científicos. Em outras palavras, ministrará aulas de História na busca do entendimento de como aquele conceito que virou saber foi construído.
Retrospectiva da História da Ciência – e das Tecnologias
A História das Ciências, que caminha juntamente com a História das Tecnologias, tem aproximadamente dois séculos de vida. Conforme Figueiroa (2010), além de nem sempre ter se unido à disciplina de História, a natureza de ambas é discutida há algumas décadas. Como resultado, há diversas versões da História da Ciência, e também da Historia, o que leva a alguns embates na prática, requerendo do professor informação de quais são as linhas gerais referentes à História da Ciência e da Tecnologia.
Antes da Bomba Atômica
Sabe-se que a História da Ciência teve origem da própria Ciência moderna, que tinha como forma histórica os entendimentos e explicações dos fenômenos da natureza, construída entre os séculos XVI e XVIII e que se firmou no século XIX.
São inumeráveis os autores que indicam a ocorrência do início da Ciência moderna, aproximadamente no século XV, período de grandes descobertas e redescobertas da cultura clássica e de outras diversas. Uma das primeiras versões da história da Ciência apresenta-se como uma justificativa da formação da Ciência, caracterizando-se como debate. Ela vai terminar entre os séculos XVIII e XIX, pois, conforme Alfonso-Goldfarb (2004), nessa época começa a se formar um único perfil da Ciência, mas a palavra Ciência só é criada no século XIX, significando conhecimento em geral. Como dito antes, seus especialistas são os cientistas.
A partir do século XX, a Ciência passa a ter grande expressão no mundo. No entanto vive um longo período de tempo sendo a-histórica, uma vez que se mostra ávida de buscar precursores geniais, cuja visão de mundo esteja à frente do seu tempo, uma história linear que se distancia de sua própria história. Além disso, diz Figueiroa (2010), Ciência e Tecnologia são colocadas acima dos demais saberes, a partir do Iluminismo.
No entanto, esse enfoque muda a partir da II Guerra Mundial, devido à produção da bomba atômica e invenção de armas com tecnologias sempre mais apuradas e mortíferas. E Alfonso-Goldfarb (2004) cita o trabalho sobre a História da Ciência, A estrutura das revoluções científicas (1962), no qual Kuhn estimula as outras disciplinas a tomarem a Ciência como tema, o que leva ao redescobrimento da própria Ciência, inclusive no Brasil. Populariza termos como paradigma e mudança de paradigma
Processos e Saberes na Construção da Bomba Atômica
“Meu Deus o que fizemos?” (Robert Lewis, copiloto do enoja Gay, 1945).
Na história da humanidade sempre existiram disputas sobre uma nova tecnologia. Não foi diferente com a produção da bomba atômica. Albert Einstein dissera a Roosevelt, após receber o Nobel de Física de 1921, que deveria ficar atento e acelerar as pesquisas, antes que os outros o fizessem.
Mediante o texto Ciência mortal: explosão de laboratório, de Lama (2004), conta-se como o grupo que produziu a bomba atômica permanece isolado no deserto, controlado pelo governo americano na realização do Projeto Manhattan.
No processo de construção da bomba os cientistas passaram a ter dúvidas de fundo moral. Conforme Lama (2004), o poder político e econômico não valorizou seus questionamentos, e o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, determinou que a bomba atômica fosse lançada no Japão. As informações são desencontradas, mas, segundo a Folha de São Paulo On-line (2005),
[...] Só em Hiroshima morreram, em 1945, 140 mil pessoas devido à bomba. Até 2005, foram somadas outras 5.375, reconhecidas como vítimas da destruição nuclear na cidade. Desta forma, o número oficial de mortos pelo ataque atômico já chega a 242.437.
Em Nagasaki, o número de vítimas fatais é de cerca de 135 mil.
Diversos acordos foram realizados entre os países. Por último, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT) permite testes com armas nucleares, somente em simulações. Desde 1996 o tratado espera ser ratificado para entrar em vigor. De acordo com o jornal Folha de São Paulo (2013), a Coreia do Norte assinou, mas não se comprometeu a cumprir o documento. No dia 12 de fevereiro de 2013 o mundo se surpreendeu com a prática de um teste nuclear na Coreia do Norte, a terceira e mais agressiva experiência atômica realizada pelo país, um desafio para a comunidade internacional.
Poderíamos questionar: O que há de comum desse ato com a explosão de uma bomba atômica utilizada como teste durante a Segunda Guerra Mundial, no laboratório nacional de Los Alamos, no Novo México, mostrado no filme O início do Fim, de Rolland Joffé (1989)? De novo, o processo de produção da bomba atômica envolve disputas políticas, econômicas, de ataques e defesas de espaços históricos e geográficos.
A partir da Segunda Guerra Mundial houve melhora da Ciência e seu ensino, interdisciplinarmente, dando origem a Congressos Internacionais de Ciência, com temas, inclusive, envolvendo países antes considerados “sem ciência” (América Latina, partes da Ásia e África). No entanto, é necessário que a educação científica dos indivíduos seja melhorada para tornar possível a prática da cidadania.
Levando em consideração a importância do contexto de produção da Ciência, sabe-se que muitas vezes as verdades científicas resultam de negociações, acordos, relações de poder. É preciso atentar para o fato de que há uma imagem pública da ciência que se confunde com a ideologia da ciência, diz Figueiroa (2010).
Por outro lado, o enfoque da História da Ciência continua se modificando, ou seja, passa a depender de contextos históricos mais amplos. Em conclusão, é necessário reforçar as discussões interdisciplinares de temas de História e Ciência com reflexos na comunidade e no país como forma do público se apropriar da Ciência e abrir caminhos para a participação democrática na sociedade.
Historiador, palestrante e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná
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