segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Pra você que ainda usa livros de papel...

Pós-doutorando do Instituto de Biologia da UFRJ, Luiz Bento defende a importância do uso das redes sociais para discussões acadêmicas e divulgação científica. 

Minha geração provavelmente foi a última que utilizou de forma plena o 'paper' propriamente dito. Quando eu queria um artigo que não estava presente na biblioteca de periódicos científicos da minha universidade, tinha que recorrer à base Comut. Para quem não está muito familiarizado com esse termo, a base Comut era um sistema muito avançado de busca de artigos no início do século 21 e que ainda existe.
A base funcionava da seguinte forma: eu ia à biblioteca da minha faculdade e passava a referência do artigo para um funcionário. Através de um sistema, ele checava se alguma universidade brasileira conectada tinha o artigo. Quando essa tentativa tinha êxito, eu fazia um depósito no banco referente ao custo da fotocópia e do envio pelo correio e, em algumas poucas semanas, recebia o artigo em casa.
Tenho até hoje artigos com o adesivo da base Comut e os guardo como se fossem uma relíquia. Para os alunos de hoje, isso deve parecer algo da idade da pedra, mas salvou a vida de muitos da minha geração. Agora, se o acesso aos periódicos científicos era complicado, imagina a interação entre cientistas.
Como diria um professor que eu tive, quando mais de dois alunos de iniciação científica se reúnem é uma rebelião. E realmente era difícil formar um grande grupo de alunos de uma mesma área. A troca de informações entre estudantes de universidades e pesquisadores acontecia basicamente em congressos e simpósios científicos. Mesmo havendo troca de e-mails, o contato pós-evento era escasso e restrito a grupos de pesquisa de áreas próximas.
Era o maravilhoso mundo pré-Orkut. Para muitos chefes de laboratório e orientadores, esse deveria ser considerado o mundo perfeito
Assim como no mundo real (fora do meio acadêmico), as pessoas tinham a tendência de se relacionar apenas com pessoas que conheciam no mundo off-line. Era o maravilhoso mundo pré-Orkut. Para muitos chefes de laboratório e orientadores, esse deveria ser considerado o mundo perfeito. Os alunos trabalhavam sem dispersão e se concentravam apenas nas suas tarefas.
Hoje em dia, com a popularização do acesso à internet e das redes sociais, essa realidade mudou. Em um mundo cada vez mais conectado, esse parece ser o assunto mais polêmico nas reuniões de laboratório, depois de pratos sujos deixados na pia e preparação da festa de final de ano. Como se defender dessa ameaça? Bloqueio, simples assim. Se algo tira a atenção dos alunos e diminui o nível de atenção no trabalho, a maneira mais fácil de terminar com o problema é cortar o mal pela raiz. Esta é uma medida adotada por várias instituições do Brasil e do mundo e alunos que usam as redes sociais podem ser mal vistos e até repreendidos pelos seus orientadores.

Fonte: Ciência Hoje
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